ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 11.05.1989.
Ao onze dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Segunda Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear as mães pela passagem do dia a elas dedicado. Às dezessete horas e dezessete minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sra. Judith Dutra, Presidente do MAPA e representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sra. Júlia Dib, Representando as Mães dos Senhores Vereadores da Câmara Municipal de Porto Alegre; Funcionária Zilá Cohen, Representando as Mães funcionárias desta Casa; Sra. Celina de Lima Barbosa, Representando o Clube de Mães Treze de Maio, do Passo das Pedras; Jornalista Otília Souza; e Vereadora Letícia Arruda, Representando a figura feminina neste Legislativo e como Secretária “ad hoc”. A Seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. João Dib, em nome das Bancadas do PDS, PL, PSB, e como proponente da homenagem, falou da sua emoção em poder homenagear e reconhecer publicamente a importância da figura feminina que representa a função de ser Mãe. Lembrou monumento erguido em homenagem às mães porto-alegrenses, quando na sua gestão de Prefeito desta Cidade, localizado no largo da Conceição; que essa comemoração teve início em Porto Alegre, através do Clube de Moços, e que foi no governo do Presidente Getúlio Vargas que foi instituído, como data nacional, o segundo domingo de maio destinado à homenagem às mães. A Vereadora Letícia Arruda, em nome da Bancada do PDT, leu definição do vocábulo mãe e poesia de Jorge de Lima, traduzindo sua emoção e honra em falar por sua Bancada como única representante feminina na Casa. Asseverou que a condição de ser mãe é uma experiência única dentro da feminilidade e que as mães, independentemente da condição financeira ou econômica, são detentoras de tal experiência. O Ver. José Valdir, em nome das Bancadas do PT e PCB, historiou as responsabilidades das mulheres frente à educação da família e maternidade em diversos períodos históricos do mundo e da sociedade; alertou para a miserabilidade e condições precárias em que muitas mães são forçadas a educar seus filhos; para a falta de assistência médica e condições de saúde; para a ocorrência de abortos clandestinos e a alta taxa de mortalidade feminina decorrente. Asseverou que, no Brasil, ser mãe é sinônimo de angústia, trabalho, solidão e violência. Leu poesia de sua autoria, em homenagem a todas as mães da cidade e a sua falecida mãe. O Ver. Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB, falou da sua emoção em ver o Plenário desta Casa repleto de mães e filhos. Homenageando as mães, ressaltou entre suas virtudes, a fé, o amor e a confiança. Afirmou, ainda, que reconhece na figura da mãe a possibilidade do nascimento de um novo processo de humanização para a sociedade. A seguir, o Sr. Presidente anunciou que estava inscrito para falar o Ver. Luiz Braz, em nome da Bancada do PTB, mas que teve de sair às pressas devido a acidente ocorrido com seu filho. Após, concedeu a palavra à Sra. Judith Dutra, presidente do MAPA e representante do Sr. Prefeito Municipal, que agradeceu a homenagem, conclamou as Senhoras Mães para que contribuam na investida da Administração Popular para a construção de uma sociedade mais justa e os Senhores Vereadores desta Casa para que visitem as favelas e vilas de Porto Alegre, numa atuação mais direta para com a parcela da população mais carente; e à Jornalista Otília Souza, que agradeceu a homenagem e discorreu sobre sua experiência como mãe adotiva. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo ao evento, convidou as autoridades e personalidade presentes a passarem ao Salão Nobre da Casa e, nada mais havendo a tratar, encerrou os trabalhos às dezoito horas e dez minutos, convocando os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pela Verª Letícia Arruda, como Secretária “ad hoc”. Do que eu, Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, lida e aprovada será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE: O primeiro orador inscrito é o Ver. João
Dib, que tem a palavra.
O SR. JOÃO DIB: Senhoras e Senhores, a amada, no momento
do perigo, diz ao amado: “Morramos juntos!” Mas a mãe diz ao filho: “Salva-te!”
Estamos
aqui reunidos para comemorar o Dia das Mães. Neste dia, Dia das Mães, é
imperioso que deixemos plantadas raízes em nosso jardim interior, onde
guardemos tudo o que de mais íntimo e real existe em nós, para que desabroche a
flor da gratidão àquela a quem devemos o que intrinsecamente somos. Deve ser um
dia sagrado em que proclamamos o reconhecimento da afeição mais pura que nos
abençoará por toda a vida. Este reconhecimento pode ser feito pronunciando-se
com todo o carinho uma só palavra: Mamãe.
Ser
mãe é amar, sofrer e perdoar. Estamos aqui para saudar a mãe porto-alegrense,
não aquela mãe que aqui nasceu, mas aquela que aqui vive com seus filhos,
vinda, muitas vezes, de terras estranhas e longínquas, como é o caso de minha
mãe que deixou o seu Líbano para aqui no Brasil gerar seus filhos e, aqui na
nossa Porto Alegre, lhes dar todo o carinho e desvelo.
A
mulher que, com suas virtudes e suas graças, cativa o nosso coração e nosso
pensamento é a que mais amamos; a mulher, a que nos unimos, é a que amamos
melhor; a mãe, porém, é a única mulher que amamos sempre. Realmente, nossa mãe
é a única mulher que amamos sempre, porque, para ela, quaisquer que sejam as
circunstâncias, malgrado os descaminhos da vida e as encruzilhadas do destino,
nós somos - na expressão poética de Gonçalves Crespo - o lírio entre os
abrolhos.
Conta-se que, certa vez, a um pintor célebre encomendaram um quadro onde fossem representados, ao mesmo tempo, o amor e a pureza. E o artista transladou para a tela a imagem de uma mãe que sustinha nos braços o filho das suas entranhas. Não poderia ter uma inspiração mais feliz esse artista, pois os braços de nossa mãe são o trono do amor e da pureza, onde, nos albores da vida, o homem brilha a sua majestade de rei da criação.
Como
Prefeito, em 1985, fizemos perpetuar o respeito e carinho que sentimos por
nossas mães, as mães porto-alegrenses, num momento, no Largo Edgar Koetz, junto
ao complexo Elevada e Túnel da Conceição, próximo da Estação Rodoviária.
Na
vida, estamos sempre escolhendo entre uma coisa e outra, entre fazer isto ou
aquilo. A cada instante somos testados e obrigados a dar provas de nossas
intenções. Por isso, devemos ter, dentro de nós, forças que nos indiquem sempre
o melhor caminho, isto é, caráter, sentido moral das convicções e força de
vontade.
Embora,
para muitos de nós, se percam hoje nas dobras do tempo os dias em que éramos
crianças ou jovens; embora os anos, em muitos aqui presentes, já nos tenham
encanecido as têmporas, malgrado isso, todos, pelo menos neste dia, estamos certos
de quem forjou o caráter, nos incutiu o sentido moral de nossas convicções, nos
imprimiu a força de vontade, nos ensinou o caminho reto a seguir.
Essa
constituição moral, que determinará nossas normas de conduta, cuja aceitação
pelo homem depende do caráter, das convicções e da força de vontade de cada um
de nós, esse amálgama de virtude foi forjado no recesso do lar, por nossas
mães, pois a mãe é nossa primeira mestra, nos anos de nossa infância. A cada um
de nós cabe honrar seus ensinamentos.
Nos
anos da adolescência, é ela que nos aponta o caminho da virtude, nos desvia dos
precipícios e, muitas vezes, enxuga a primeira lágrima de fogo que faz assomar
aos nossos olhos um amor que não seja o seu. O amor de mãe não arranca lágrimas
de fogo; produz pranto suave que refresca a alma, como o orvalho e a brisa
refrescam a terra e as flores.
Nos
anos de juventude, é ela, ainda, que consola as nossas amarguras, perdoa os
nossos extravios, e é a amiga que nunca nos engana, a amante que, inalterável e
fiel, nos ama sem cálculos, sem falsidades e sem ciúmes.
É
ela quem reparte conosco as suas alegrias e quem sofre conosco as nossas
tristezas; quem vela o nosso sono; quem conta como suas as horas do nosso
sofrimento; quem cerra, muitas vezes, as nossas pálpebras no derradeiro
instante. É ela o único ser, enfim, depois de nosso pai, que não admite consolo
por nossa morte, porque embebe toda a sua alma no egoísmo intenso da dor por
ter perdido um filho.
A
comemoração do “Dia das Mães”, no Brasil, nasceu em Porto Alegre. Foi uma
iniciativa da Associação Cristã de Moços, através de solenidade presidida pelo
saudoso escritor gaúcho Álvaro Moreira, tendo como oradora oficial a poetisa
Júlia Lopes de Almeida.
Atendendo,
posteriormente, solicitação do Segundo Congresso Internacional Feminista, o
chefe do então Governo Provisório, o saudoso Presidente Getúlio Vargas,
promulgou o Decreto n° 21.366, de 05 de maio de 1932, instituindo,
oficialmente, o Dia das Mães, no segundo domingo de maio. Em 1947, por
determinação do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros
Câmara, o Dia das Mães foi incluído no calendário oficial da Igreja Católica.
Talvez
nenhum outro dia, de nenhum outro mês do ano, teria sido tão bem escolhido,
para ser dedicado às mães, do que este segundo domingo de maio, mês consagrado
à Maria, a mãe de Deus, a mais perfeita das mães, aquela que, olhando na
manjedoura o Menino Deus - no verso inspirado de Bilac - “muda e humilde, como
escrava, tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos, sendo pobre, temia e,
sendo mãe, chorava”.
Almas
eleitas para o sacrifício, transfiguradas pelo instante augusto da maternidade,
santas do bem e da ternura, o Cristianismo as colocou nas alturas,
atribuindo-lhes um dos ofícios mais sublimes da sociedade humana: a criação e a
educação dos filhos, dos futuros homens.
Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, Mães, neste momento, nossa homenagem à mãe
porto-alegrense na pessoa de nossa Vereadora Letícia Arruda, mãe dedicada e
extremosa, homenagem que estendemos, também, às mães dos Senhores Vereadores,
as quais genitoras que são dos dignos representantes do povo porto-alegrense,
neste Parlamento, se nos afiguram como a imagem mais significativa das mães que
vivem na nossa Porto Alegre, incluindo-se aí as não menos maravilhosas mães
adotivas, prestando serviços nos mais diversos setores da atividade humana, no
serviço público, no comércio, na indústria, no magistério, em outras ocupações
de natureza profissional, nas modestas, anônimas, mas importantes lides de casa
e, ainda, aquelas mães, empregadas domésticas, que estarão, talvez, executando
seu mister nos lares de outras mães, para que estas possam estar, no dia que
lhes é consagrado, recebendo merecidas homenagens.
No
escrínio da literatura brasileira, onde são guardadas as jóias da nossa poesia
- e tantas há! Escolhi, dentre as que mais o sejam, uma das mais belas.
Refiro-me ao poema “Mãe”, de Paulo Bomfim que, com a vossa benévola
condescendência, me permito ler e dedicar às mães porto-alegrenses e, em
especial, a vós que escolhemos para representá-las:
“Mãe.
Quando
alcanço teu sorriso/ pairando na tarde calma,/ relembro crenças perdidas/ e os
sonhos florescem na alma.
Quando
vejo teus cabelos/ encantados de luar,/ creio que o céu também cabe/ nas
paredes do meu lar.
Quando
encontro tuas mãos,/ cheias de graça e distância,/ vejo que a vida renasce/ nas
manhãs de minha infância.
Quando
escuto tua voz/ sobre as tormentas sem fim,/ sinto que nuvens cinzentas/ dão
rosas dentro de mim.”
Concluo
esta saudação, como faria, por certo, qualquer um dos meus Pares, nesta
tribuna, na presença de sua mãe, dizendo que, como um filho que ainda guarda no
relicário do peito a lembrança mais nítida, o encanto mais alto, a ternura mais
bela, a abnegação mais serena daquela que lhe deu a vida, abro os meus braços,
para aconchegar ao coração, num abraço cheio de carinho e de respeito, todas as
mães de minha Cidade, e o faço, simbolicamente, abraçando, neste dia e neste
momento, para mim a melhor de todas as mães, Dona Júlia, minha mãe querida.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos à palavra a Verª Letícia
Arruda que fala pela Bancada do PDT.
O SRA. LETÍCIA ARRUDA: Senhoras e Senhores, é com muito prazer e
muita honra que a Bancada do PDT designou-se para falar neste dia. Sendo a
única representante feminina na Câmara Municipal desta Cidade, venho a esta
tribuna na condição de mãe, não de Vereadora, para homenagear todas as mães
nesta Sessão Solene a elas dedicada.
O
vocábulo “mãe” traduz a universalidade desses seres, não se concebendo
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de
discriminação.
No
instinto de mãe não existe diferença entre a mãe da Vila e da habitante de
castelos, existindo aí sim a diferença sócio-econômica e que são submetidas
dentro do contexto social.
Afirmo
com certeza de que toda a mãe pensa na prioridade de assegurar à criança o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, a
profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito à liberdade, a convivência
familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de toda a forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
É
esse esforço cotidiano levado a efeito pela mãe, que permite-nos visualizar a
existência de uma identidade comum apesar das diferenças sociais. Há uma
experiência feminina única em seu gênero em questão que permite-nos visualizar
sua identidade - falo às mães, pois algo distingue-nos distintamente entre os
gêneros: a perpetuação da vida humana.
Mãe
e mulher são aqui condições interdependentes. Produzem o sentimento mágico de
comunhão com o Cosmos, pois participam da sua mesma particularidade essencial
que é, como sabemos, a da produção da vida.
Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, colegas, funcionários, amigos, amigas, meus
filhos, parafraseando Jorge de Lima concluo:
“Não
quero aparelhos para navegar./ Ando naufragado, ando sem destino./ Pelo vôo dos
pássaros quero me guiar./ Quero tua mão, ‘Mãe’, para me apoiar!/ Pela tua mão,
‘Mãe’, quero me guiar!/ Quero o vôo dos pássaros para navegar./ Ando
naufragado, ando sem destino./ Quero teus cabelos ‘Mãe’ para me enxugar!/ Não
quero ponteiro para me guiar./ Quero teus dois braços ‘Mãe’ para me abraçar./
Ando naufragado, quero teus cabelos ‘Mãe’ para me enxugar!/ Não quero bússolas
para navegar,/ quero o teu nome ‘Mãe’ para me orientar./ Ando naufragado, ando
sem destino,/ quero tua mão ‘Mãe’ para me salvar!” Muito obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. José Valdir pelo PT.
O SR. JOSÉ VALDIR: Comemora-se hoje, nesta Casa, o Dia das
Mães, justa homenagem, porque a maternidade nos nossos dias tem sido humilhada
e explorada. Na história da humanidade sempre coube às mulheres as funções de
maternidade: o cuidado, a alimentação, a educação das crianças. Sempre foi um
encargo feminino. Mas esta função social, que é de reprodução da vida, teve
lugares e valores diferenciados no decorrer da história. Encontramos registros
em sociedades ditas primitivas que demonstram que o cuidado das crianças era
tarefa altamente valorizada pelo conjunto da comunidade. Por desempenharem este
papel eram as mulheres detentoras de poder social, político e de sabedoria. Em
outros momentos da história, como na França aristocrática do Século XIV e XV, a
maternidade tinha outras especificidades. Era prática corrente na aristocracia
francesa, mandar seus filhos para serem criados por camponesas no interior, as
chamadas amas-secas; e só voltar a encontrá-los quando tivessem 5 ou 6 anos, já
educados.
O
capitalismo, a partir do Século XVII, inaugura uma nova forma de organização da
família e, também, da relação materna. Ao criar o trabalho assalariado em
fábricas, bancos, comércio, etc. o capitalismo quebra a unidade até então
existente entre o público e o privado, a casa e a rua. Não só constrói
antagonismos, diferenças de classes, mas também a desagregação social que
atinge a maternidade. Cada vez mais as pessoas e, em especial, as mulheres,
ficam isoladas em suas casas. E ser mãe passa a ser uma tarefa extremamente
difícil, pelo trabalho e pela solidão.
O
estado capitalista, em lugar nenhum do mundo, responsabiliza-se até hoje pelos
cuidados que as crianças precisam e merecem, como saúde, creche, escola,
alimentação, etc. tornando esta tarefa exclusivamente individual, especialmente
feminina.
No
Brasil, a maternidade é hoje, talvez, mais do que nunca, uma função digna e de
muito respeito. As condições com que a mulheres gestam, criam seus filhos, são
precárias, miseráveis mesmo.
E
para exemplificar, nós poderíamos citar alguns fatos do cotidiano. A maioria
absoluta da população feminina, mais ou menos, setenta milhões de pessoas, não
tem atendimento de saúde pré-natal, com informações contraceptivas adequadas,
gestações seguras, sem risco de vida e partos assistidos. Muitas mulheres têm,
ainda, partos dificultosos e sofridos, e crianças mal-formadas, por absoluta
falta de condições de saúde.
A
Organização Mundial da Saúde estima que, no Brasil, são realizados cinco
milhões de abortos por ano, clandestinos e inseguros, cuja taxa de mortalidade
feminina é aproximadamente de 10%. Sem dúvida, estes dados não são por falta de
amor materno e, sim, por falta de possibilidade de realizar esse amor.
Aproximadamente, 25 milhões de crianças vagam pelas ruas abandonadas por todos
nós, pela sociedade. E estas crianças, conforme dados e informações da FEBEM,
geralmente, sabem quem são seus pais, o nome e o local para encontrá-los, seus
irmãos, sua família. Os menores não são abandonados por suas mães, mas pela
vida que os abandonou. Às mães que possuem mais condições para criar seus
filhos, é imposta uma jornada de trabalho que começa em casa, ao amanhecer,
continua na rua, no trabalho assalariado, permanece na volta para casa, ao
entardecer, e alonga-se até à noite, porque além de seu trabalho público,
reconhecido como economicamente ativo, lavam, passam, cozinham, enceram,
varrem, contam estórias para dormir, fazem mamadeira no meio da noite e ensinam
o porquê de todas as coisas do mundo; e isso é tempo, e isso é trabalho. As
crianças exigem cuidado permanente e contínuo, o que nos obriga a uma
assistência integral. Quem faz essa assistência? As mães são obrigadas a
trabalhar para sustentar seus filhos. E quem cuida de seus filhos, quando ela
trabalha? A resposta da maioria das mulheres é ninguém. E é uma realidade
nacional a angústia de crianças sozinhas em casa e de mães que são obrigadas a
deixá-las. A FEBEM tem dados de que menos de 10% das crianças no Estado são
atendidas por creches, e a creche é uma responsabilidade do Estado para com os
pais e filhos. Pode-se dizer, portanto, que ser mãe, no Brasil, hoje, é
angústia, trabalho, solidão e violência. Mas esta miséria que tem dilapidado as
reminiscências do amor não acabou com as gotas de esperanças do cotidiano, na
reprodução da vida feita pelas mulheres através de seus filhos. A maternidade é
poder; é poder gerar uma pessoa; é poder construir com outros valores; é poder
apostar na construção do mundo e da humanidade com paz; a maternidade é poder
porque é um movimento no sentido oposto ao egoísmo, é um movimento de entrega,
de amor, é um movimento de milhões de pessoas. A força das mães é sua dignidade
e sua crença na humanidade.
Antes de terminar, eu gostaria de ler um poeminha que fiz ontem, dedicado às mães. Gostaria de dedicá-lo a todas as mães aqui presentes e em memória da minha mãe, falecida no ano passado. Acho que fiz o poema, também, pensando nela. (Lê.)
“Homenagem
às Mães
A
sociedade as homenageia/ uma vez por ano./ Nos outros dias/ Elas - as mães -/
São esquecidas/ no seu ‘Reino’ doméstico/ E lavam/ E passam/ E educam/ E
alimentam/ E consolam a dor/ E curam feridas/ E multiplicam pães escassos/ E
fazem milagres/ Mas são ‘rainhas’/ Esquecidas/ Silenciosas/ Reproduzindo a
vida.
Por
isso, nesse dia/ (E só nesse dia)/ O sistema as homenageia/ E as recompensa/
Por aceitarem caladas/ A dupla jornada/ A violência/ A existência Imolada/
Hipotecada/ à dita ‘missão natural’/ à dita ‘missão sagrada’.
Eis
que vozes de mulher/ Ecoam gritos de liberdade/ Por todo o canto/ Pelas
fábricas/ Pelos campos/ Pelas cidades/ São mães/ - Não rainhas -/ Não querem
ser rainhas/ Simplesmente mães/ Cidadãs, Mulheres/ Ousando dizer não/ A imposta
missão/ Anti-natural/ De só dizer sim.
Ou
então/ Mães já sem lágrimas/ Para chorar os filhos e maridos/ Torturados/
Assassinados/ Desaparecidos/ Já sem medo/ Com vozes roucas/ Clamam pelas
praças/ Por justiça/ Aos ditadores/ Aos assassinos/ Aos lacaios/ Que as tratam
por ‘locas’/ ‘Las locas de la plaza de maio’.
Pois
nessas ‘locas’/ Reside toda a esperança/ Da humanidade/ De um novo mundo/ Sem
opressão/ Guerra/ Miséria/ Ou desigualdade.”
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Airto
Ferronato, pela Bancada do PMDB.
O SR. AIRTO FERRONATO: Senhoras, Senhores, vivemos neste
instante um momento de imensa gratidão, com vistas a homenagear esta bela
figura humana que dedica sua existência à sublimação do amor, através da
maternidade.
É
com alegria e renovada emoção que vejo esta Casa repleta de mães e filhos a
quem nos dirigimos. Falo em nome do meu Partido, o PMDB desta Casa,
cumprimentando inicialmente o requerente, Ver. João Dib, pela iniciativa
oportuna, apropriada e altamente necessária no sentido de valorizar e externar
toda a nossa ternura e carinho, àquela que é responsável pelo sopro de vida que
existe dentro de cada um de nós.
Parabéns
a todas as mães, nossos votos de felicidades no transcurso de tão significativa
data. Por tudo aquilo que representa enquanto mãe, o exemplo mais notável recai
sobre Maria, a escolhida para ser a mãe do filho de Deus. Maria não tem títulos
especiais para a missão a que fora escolhida, é uma simples jovem. Mãe não é
branca, não é vermelha, não é amarela, não é negra; mãe, antes de mais nada, é
ternura, pureza, singeleza, vida e amor.
Deus
confiou na mulher, escolhendo-a como representante de todas as pessoas humanas,
fazendo depender de uma mulher o início da execução do plano de redenção
humana, em sua plenitude. Naquilo que é próprio da sua personalidade, uma
autêntica emancipação da mulher, não significa reivindicação para ela tudo o
que pertence ao homem. A mais sublime de suas missões é ser mãe.
Esta
emancipação, abre para todas as mulheres um horizonte universal, pois suas
atribuições femininas não devem ser enclausuradas no círculo estreito de uma
maternidade privada, mas devem ser orientadas, para uma contribuição eficaz
para a construção de uma humanidade mais justa e fraterna. Entre suas virtudes,
podem ser ressaltadas: a fé, o amor, o carinho e a confiança.
Lê-se
no rosto da mãe os reflexos de uma beleza que é espelho dos mais elevados
sentimentos que o coração humano pode albergar: a fortaleza que é capaz de
resistir aos grandes sofrimentos; a fidelidade sem limites; a operosidade
incansável; a capacidade de conjugar a intuição penetrante com a palavra de
apoio e encorajamento.
A
figura de mãe projeta luz sobre a mulher enquanto mulher. A mulher olhando para
Maria, encontrará nela o segredo para viver dignamente a sua feminilidade e
para realizar a sua verdadeira promoção.
É
somente através dos mais nobres sentimentos de mãe que veremos o renascimento
do novo homem, atuante no seio de uma civilização tecnologicamente avançada até
a saturação, dando prioridade essencial à sua esperança, à sua plena realização
de vida integral, em nível hierárquico superior às exigências que conduzem à
morte e ao predomínio estéril das coisas.
Reconhecemos
no papel de mãe, em sua essência, a mola mestra e mantenedora do processo de
condução da urgente instalação de um novo humanismo, fundado limpidamente na
força do amor e da esperança, que alimentarão as transformações reclamadas
pelos seus filhos que agora tentam se afirmar nos planos social, econômico,
político e individual.
Mãe,
tu que nos criaste, com todo o zelo e carinho, na expectativa de um dia nos ver
crescer dentro dos mais autênticos valores humanos, nossa gratidão pelo milagre
da vida e por todo o alimento espiritual que hoje se incorpora em nosso ser.
Mãe,
que Deus te proteja! (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Neste momento nós iríamos conceder a
palavra ao Ver. Luiz Braz pela Bancada do PTB. O Vereador estava aqui com a sua
esposa, mas recebo um comunicado de que o Vereador saiu às pressas, tendo em
vista que houve um acidente em sua residência com um dos seus filhos, sua
esposa também acompanhou. Então, vou falar em nome dele, rapidamente. Tenho
certeza de que o Braz também se somaria com ênfase, com a voz que ele tem, que
Deus lhe deu, homenageando as senhoras, as senhoras que participam do Clube de Mães,
onde ele tem uma ligação muito forte também. Eu, como se fosse ele,
homenagearia a esposa que o acompanha em todos os momentos. Então, em nome do
Braz, um abraço a todos.
Concedo
a palavra agora à Primeira Dama do Município.
A SRA. JUDITH DUTRA: Sr. Vereador Valdir Fraga, Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhora Vereadora Letícia Arruda,
representando a figura feminina nesse Legislativo; Senhora Júlia Dib,
representando as mães dos senhores Vereadores de Porto Alegre; Senhora Zilá Cohen,
representando todas as mães funcionárias desta Casa; Senhora Celina de Lima
Barbosa, representando o Clube de Mães Treze de Maio, do Passo das Pedras; Sr.
João Dib, pelo qual eu recebi o convite para esta homenagem. Eu vim aqui para
agradecer todas estas homenagens a nós, mães porto-alegrenses, e, nesse
sentido, conclamar toda população: vamos nos dar as mãos para que a nossa
sociedade melhore, para que nossos menores abandonados tenham uma melhor
assistência, convido os Srs. Vereadores para que andem mais nas vilas, e dêem
uma olhada nas creches, se sensibilizem mais com este problema social, que nós,
lá no MAPA, temos um trabalho que estamos desenvolvendo muito em cima do menor.
Muitos problemas que já existiam estão existindo, estão aos nossos olhos. Vamos
nos dar as mãos e vamos ajudar essas mães desesperadas que estão aí, que
precisam trabalhar para o seu sustento e que não conseguem, muitas vezes, quem
cuide de seus filhos para que eles cresçam como pessoas humanas. Quero
cumprimentar os Clubes de Mães presentes e dizer aos Clubes de Mães que lá no
MAPA a gente está às ordens para fazer um trabalho conjunto; já entrei em
contato com o Conselho Geral do Clube de Mães e a gente vai procurar fazer um
trabalho conjunto lá no MAPA. Queria só mais uma vez agradecer essas homenagens
em nome do Prefeito Olívio Dutra e em meu próprio nome. Muito obrigado.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Nós vamos conceder a palavra, talvez de
surpresa, para a Jornalista Otília Souza que vai nos contar um pouquinho de
seus filhos adotivos.
A SRA. OTÍLIA SOUZA: Estou duplamente emocionada. Sr. Ver.
Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Srª Judith Dutra,
Presidente do MAPA e esposa do nosso querido Prefeito Olívio Dutra; Verª
Letícia Arruda, digna, bonita e forte representante feminina neste Legislativo;
Srª Júlia Dib, mãe de uma excelente pessoa que eu admiro e gosto muito que é o
Ver. João Dib; funcionária Zilá Cohen, minha amiga, representando todas as mães
funcionárias desta Casa; Srª Celina de Lima Barbosa, representando o Clube de
Mães 13 de Maio, do Passo das Pedras.
Já
dizia um poeta que ser mãe é sofrer num paraíso. Feliz de cada uma de nós que
podemos padecer dessa forma. No Dia das Mães eu sempre penso em homenagear
também os filhos, porque se não fossem esses filhos que nos acompanham, que nos
dão alegrias, que nos trazem preocupações muitas vezes que vêm sempre, depois,
acompanhadas de um suspiro de desafogo porque se vê que nem todo mal se traduz
de uma forma sem conserto, sempre vem a bonança depois. Por esses filhos, por
essas mães, o Dia das Mães, 14 de maio, hoje, aqui, representado neste dia 11,
numa homenagem do Ver. João Antônio Dib, porque no dia 14 vamos estar quase
todos comendo um churrasquinho, não sei se de carne bovina, porque está
escassa, mas vamos estar comemorando com nossos filhos, é uma data que marca os
365 dias do ano; o Dia das Mães são todos eles; é cada um deles. E eu, neste
momento, penso naquelas crianças que não têm o privilégio de ter um ombro,
esquerdo ou direito, de ter um colo, elegante ou não, para encostar a cabeça
quando levam um tombo, cortam o lábio, ou fazem um galo na testa. É nessas
crianças que eu penso no Dia das Mães. Eu tenho filhos e, como costumo dizer,
três que gerei pelo útero e cinco que gerei pelo coração, entre eles, aquele
que estava comigo, que é gêmeo do outro que está lá - o Gustavo e o Guilherme -
mas eu não sei se eles é que são os privilegiados, juro que não sei, porque
eles têm me dado tanta gratificação, tanto amor, tanto carinho - todos os
cinco, do mais velho que está com 27 anos, aos mais novos, que estão com um ano
e um mês - que eu acho que no Dia das Mães, cada uma de nós que está aqui, se
pudesse, estendesse a mão para mais uma criança gerada pelo coração. Eu
garanto, assino embaixo: não há diferença alguma! Muita gente alega que pegar
uma criança é um risco porque não se sabe se aquela criança, amanhã, vai
corresponder, se não terá algum problema de hereditariedade, ao que respondo:
quando geramos um filho, o que pensamos, o que passa pela nossa cabeça? Será
que vai nascer perfeito? Será que vai nascer bonito? Os olhos vão ser azuis,
vão ser verdes? Será que vai ser uma criança inteligente? Será que vai ser
normal? A carga genética é claro que existe, está aí a medicina a comprovar,
mas nenhum de nós pode atestar que há 10, 12 gerações atrás alguém, na nossa
família, não tenha tido um desvio genético e que isso não irá refletir num
filho nosso. Eu aposto nas crianças porque é destas crianças que a gente
recolhe, abraça e ama e de quem se recebe muito carinho, muito amor e muito
respeito, que vai depender esta nação em que vivemos e para a qual, às vezes,
olhamos com temor. Essas crianças não pediram para nascer, mas pedem para serem
amadas e retribuem com amor imenso. Muito obrigada a todos os meus filhos, aos
oito, aos três gerados no ventre e aos cinco gerados no coração! Encerro,
dizendo que a mãe não tem um coração só, tem uma variedade de corações e é só
saber usá-los. O meu carinho, o meu afeto para todas as mães e um beijo bem
grande para aquelas crianças que estão esperando uma mãe e que sei que vão
ganhar. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Nós já falamos no pai-mãe, falamos na
avó-mãe e tem avó que é mais coruja que a mãe, ela se aproveita do momento para
dar o carinho que não pode dar para o filho, pois o filho cresceu, se formou ou
continua trabalhando com a orelha deste tamanho, tem Vereador aqui cada qual
com a orelha maior que a outra, mas graças à mãe as orelhas cresceram mas eles
estão representando a Cidade.
Eu
gostaria também de dar um abraço forte às funcionárias da Casa com muito
carinho, com muito respeito, agradecendo o trabalho que desenvolvem nesta Casa
e que, todos sabem, deixam os filhos em creche ou na própria casa, assim como
as mães anônimas, como, por exemplo, eu pude observar lá no Lar Santo Antônio
dos Excepcionais, em que vão lá as mães ajudar um pouquinho os filhos que vem
lá do outro lado do nosso Estado sem nem saberem de quem são aquelas crianças. Também
aquelas mães que trabalham em supermercado como lá do Lami, que trabalham,
tiram leite, puxa vaca para cá, para lá e dá tempo para tudo. Também às
queridas mães dos Vereadores, que graças a elas eles estão aqui representando,
e muito bem, e quando chamavam a atenção deles e quando nem pensavam em ser
políticos, com aquele carinho, com aquele beliscão, mas graças as suas mães
estão aqui ouvindo o poema que o quero José Valdir colocou perfeitamente e que
só ficou faltando o puxão de orelha.
Então,
um beijão para todas as mães e extensivos às avós, às mães que aqui estiveram,
seus amigos e parentes, que tenham um domingo muito feliz, com churrasco, com
café, mas que passem todos juntos. (Palmas.)
Estão
encerrados os trabalhos.
(Levanta-se
a Sessão às 18h10min.)
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